sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Bem, mais uma poesia noturna...

Aquele rapaz ali na calçada, cabisbaixo, pensativo, sou eu.
Aquele distinto senhor que esconde anos e esqueletos em todos os empoeirados armários de sua vida sou eu.
Aquela moça esvoaçante, toda olhos e sorrisos, sou eu.
Aquela criança de joelhos ralados e toda a esperança do mundo sou eu.
Aquele poeta sonhador de pena reticente sou eu.
Aquele bêbado que namora a lua sou eu.
Aquele velho frade de joelhos cansados e coração divinamente em paz sou eu.
Aquela bituca de cigarro abandonada após seu breve prazer sou eu.
Aquela pedra que caminha chutada por todas as estradas sou eu.
Aquele resto de tinta no pote do pintor sou eu.
Aquele destroço de naufrágio encalhado na praia sou eu.
Aquela vela apagada sou eu.
Aquele suspiro no escuro sou eu.
Aquele fim de mundo sou eu.

... E eu, quem sou?

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Bem, uma noite, uma caneta...

E quem é que não gosta de viver?

Sons da noite vêm e vão. Chuva caindo morosa, preguiçosa. Leve brisa resfriada, molhada, levando ao longe a azul fumaça do cigarro já quase no fim. Quisera eu ser tal fumaça levada para todos os cantos do mundo, sem dor, sem medo, me abrindo e me tornando um com tudo.
Esforçando-me para isso, acendo apressadamente outro cigarro. Meu corpo, porém, torna-se cada vez mais frustradamente sólido.
Ainda estou aqui.


Hoje uma folha caiu da árvore e eu entendi. Entendi todo o mistério do transitório ao perene. Entendi toda a vida, toda a morte, todo propósito e todo acaso. Entendi o porque de se movimentar, o porque de ficar, o porque de ser. Isso! Entendi o ser.
Amanhã, já me esqueci.


Tem tanta gente assim no mundo mesmo?!