quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Bem, um conto...







O Menino e a Pedra


Era uma vez um menino calado, que todos achavam que era meio bobo. Mas ele não era nada bobo. Na verdade, talvez fosse o menino mais esperto do mundo, só que ninguém sabia. Um dia ele acordou, arrumou a cama, colocou a roupa da escola, escovou os dentes e penteou o cabelo. Sua mãe já tinha preparado o café, que ele comeu tudo, bem quieto. Deu um beijo na bochecha da mãe e saiu pra aula. No caminho, ele encontrou uma pedra brilhante, muito brilhante. Ele sabia que pedra era aquela, pois ele era esperto e lia muito, mas a pedra não sabia quem era aquele menino calado, pois ele era o único menino da cidade que nunca a havia chutado. Ela viu o menino seguir seu caminho e ficou lá, sozinha.

Horas depois, o menino vinha novamente pelo caminho e olhou pra ela com interesse, mas também desta vez não a chutou. Assim seguiram os dias, um cada vez mais interessado pelo outro, mas não faziam nada mais do que se olharem por alguns segundos por vez. Um dia, a pedra, já cansada de tanta curiosidade chamou o menino, e o menino se espantou, pois a pedra sabia falar. Então, ele chamou a pedra pelo nome, e a pedra se espantou mais ainda, porque, além de ele saber falar, ele ainda sabia o nome dela. Eles começaram então a conversar e o menino ficou encantado com as coisas que a pedra sabia, e a pedra ficou ainda mais encantada com as coisas que o menino sabia, e ele sabia muitas coisas.

Assim, todo dia ao ir e voltar da escola, o menino parava pra conversar com a pedra, e um contava coisas pro outro, e eram as conversas mais legais e as histórias mais divertidas que se podia ouvir. Porém, logo a pedra ficou triste, pois as histórias dela estavam acabando, e o menino sempre tinha mil coisas pra falar. Ela foi ficando cada dia mais quieta e triste, e o menino, que era esperto, notou.

-"Dona pedra... porque você anda tão triste?", ele perguntou.

E ela falou que estava triste porque não sabia tantas coisas, e que queria contar muitas coisas para o menino, como ele contava pra ela.

O menino, então, teve uma boa idéia: levou a pedra para a beira de um caminho muito movimentado. Assim a pedra poderia ver muita gente e teria muitas histórias para poder contar a ele. A pedra, é claro, ficou super contente, pois fazia muito tempo que ela não saía do lugar. No dia seguinte, o menino, ansioso por saber as novidades de sua amiga pedra, acordou bem cedinho e se aprontou rápido e ansioso, deu um beijo estalado na bochecha da mãe e saiu correndo pra estrada movimentada onde deixara sua amiga pedra. Ao chegar lá, não a viu.


"Alguém deve ter chutado... ela deve estar logo ali", pensou ele.


E foi até ali e novamente não a encontrou. Repetindo o pensamento, andou sem rumo pela estrada até o sol se pôr, sem encontrar sua amiga. Ele então viu que não sabia mais como voltar pra casa, e decidiu perguntar pra uma pedrinha que estava por ali, mas essa pedrinha não sabia falar. Ele, então andou a noite toda, perguntando de pedrinha em pedrinha, mas sem sucesso, pois essas pedrinhas não eram como sua amiga. Por sorte do destino, que costuma proteger os meninos espertos que lêem e prestam atenção à sua volta, conseguiu achar o caminho de casa, e encontrou sua mãe muito preocupada. Mesmo vendo a preocupação da mãe, que gostava muito dele e sabia que ele era esperto (embora ninguém mais soubesse disso), ele só pensava na pedra.

Muitos anos depois, ele já tinha crescido, e tinha um bom emprego, uma esposa bonita e uma filha amável. Mas ainda sentia falta da pedra, que tinha sido muito importante para ele. Por causa disso, ele trabalhava com pedras... era joalheiro. Todos os dias via e mexia com várias pedras, mas nenhuma delas era a sua pedra.

Até que, um dia, sua filha chega em casa e anuncia que vai se casar. Nesse momento, como se uma pedra acertasse sua cabeça, ele percebeu como estava velho e que passara tanto tempo pensando na pedra, sem nem perceber sua vida passando diante dele. Decide, então, viver pra filha e pela felicidade de sua família e dos netos que viriam. Nessa noite, deu uma festa, comemorou e bebeu com o genro. No meio da algazarra que ele decidiu fazer por sua filha, ouve uma vozinha, bem baixinha, dando uma risadinha. Ele se assusta, é claro, pois era uma voz muito familiar. Todos aos poucos se calam, espantados, pois era a primeira vez que eles o viam sorrindo, e também a primeira vez que o viam chorando. Nesse momento, ele encontrou sua amiga pedrinha no anel de noivado da filha.





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[história criada pra uma amiga que estava sem sono]

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