sábado, 27 de fevereiro de 2010

Bem, uma palavrinha de Odin...

"- Sei um encanto que pode curar dor e doença, e que pode tirar o sofrimento do coração daqueles que sofrem.
Sei um encanto que cura com um toque.
Sei um encanto que faz as armas do inimigo se virarem pro outro lado.
Sei outro encanto que me solta de todas as amarras e abre todas as fechaduras.
Um quinto encanto: eu consigo pegar uma flecha no ar e não me machucar.


As palavras soavam pesadas, urgentes. O tom amedrontador não estava mais lá, o sorriso cínico também não. Wednesday falava como se recitasse as palavras de um ritual religioso, ou como se estivesse se lembrando de alguma coisa obscura e dolorida.


— Um sexto: feitiços feitos pra me machucar só vão machucar quem os enviou.
Sétimo encanto que eu sei: posso apagar o fogo apenas olhando pra ele.
Oitavo: se algum homem me odiar, eu consigo ganhar sua amizade.
Nono: eu posso fazer o vento dormir com o meu canto e posso acalmar uma tempestade durante tempo suficiente pra levar um barco até a costa.
Esses foram os primeiros nove encantos que eu aprendi. Durante nove noites eu fiquei pendurado na árvore nua, a lateral do meu corpo perfurada pela ponta de uma lança. Eu balançava de um lado pro outro e sacolejava aos ventos frios e aos ventos quentes, sem comida, sem água, um sacrifício de mim pra mim mesmo, e os mundos se abriram.
Como décimo encanto, eu aprendi a dispersar bruxas e fazê-las rodopiar no céu de modo a nunca mais encontrarem seu caminho de volta às suas próprias portas.
Décimo primeiro: se eu cantar quando uma batalha eclodir, posso fazer com que guerreiros passem pelo tumulto ilesos e intactos e posso trazê-los de volta a suas famílias e a seus lares sãos e salvos.
Décimo segundo encanto que sei: se eu vir um homem enforcado, posso tirá-lo da forca pra que sussurre no nosso ouvido tudo de que consegue se lembrar.
Décimo terceiro: se eu jogar água sobre a cabeça de uma criança, ela não vai sucumbir na batalha.
Décimo quarto: sei os nomes de todos os deuses. De cada um dos malditos.
Décimo quinto: sonho com poder, com glória, e com sabedoria, e eu posso fazer as pessoas acreditarem nos meus sonhos.


A voz dele estava tão baixa agora que Shadow precisava se esforçar para ouvi-lo por sobre o barulho do motor do avião.


— Décimo sexto encanto que sei: se preciso de amor, posso transformar a mente e o coração de qualquer mulher.
Décimo sétimo: nenhuma mulher que eu desejo vai desejar alguém mais na vida.
E eu ainda sei um décimo oitavo encanto, que é o maior de todos, e esse eu não posso contar pra nenhum homem, porque um segredo que ninguém mais além de você sabe é o segredo mais poderoso que pode existir."


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Retirado do livro Deuses Americanos, de Neil Gaiman.

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