Hoje, como em muitos momentos tediosos da vida, fiquei pensando em coisas que eu pediria ao gênio da lâmpada, caso eu encontrasse alguma.
Um dos desejos que me ocorreu foi: um transporte coletivo bom, 24 horas por dia e gratuito (essa última parte seria para mim, claro).
Porém, também me ocorreu que o gênio seria mais bem humorado e sacana do que pretendem alguns programas "humorísticos" da Globo. Certamente, algo parecido com o gênio das piadas mais famosas que conhecemos (caso você não conheça nenhuma, saia da internet e vá beber em algum boteco); em se tratando de piada, a minha vida é bem parecida com muitas delas, não necessariamente as boas. Bem, como o gênio seria, muito provavelmente, um filho da puta de marca maior, é bem provável que ele me transformasse em um velho ou em um paraplégico, conseguindo, assim, minha gratuidade.
Nesse ponto do devaneio solitário e inócuo a respeito desse desejo e suas conseqüências, estaria eu, então, arrastando minha velhice ou minha cadeira de rodas pelos bares por aí, e ouviria (espero não ser um velho surdo) os alegres e ébrios jovens conversando: "Ei, cê já ouviu aquela do cara que pediu pra nunca mais pagar pra andar de ônibus e o gênio transformou ele em um cadeirante? (ou em um velho, dependendo do final da piada)"
Pois bem, pensei eu com meus botões, ainda considerando seriamente a hipótese do gênio me sacanear, pelo menos eu teria dois desejos. Lógico que um deles eu teria que gastar pedindo pro maldito gênio me fazer voltar ao "normal", e o outro, de acordo com as tradições, seria para ele voltar para dentro da lâmpada. Pelo menos ainda teríamos um bom transporte coletivo, e 24 horas por dia.
Eu poderia transformar este devaneio da hora do cigarro em um conto, se eu quisesse, mas não seria um conto engraçado como foi na minha mente. Via de regra, meus contos não são engraçados, e assim, não refletem meu pensar social. Socialmente, sou razoavelmente sádico, meio escroto com todo mundo, mas sempre engraçado, ao menos pra mim. Já meus costumam trajar emoções que eu freqüentemente não sinto a não ser que eu queira, e eu usualmente me faço sentir isso mais quando estou sozinho, em especial nas tediosas noites de quinta feira, como essa em que escrevo isso (tecnicamente já é sexta, às 3:46 da madrugada, mas era noite de quinta quando escrevi no papel > meu processo criativo costuma ter muita vergonha diante de telas e teclados, mas deita e rola sobre o papel).
(Nem todas as quintas feiras são assim, solitárias e tediosas, e nem sempre é noite quando me encontro em um momento desses que costumam me fazer ter vontade de escrever. Na verdade, momentos solitários e tediosos são momentos que me deixam assim, louco pra escrever algo, e mil idéias surgem. Só chamei esses momentos de Tediosas Noites de Quinta Feira porque agora é uma noite de quinta feira bem tediosa. Mesmo assim, têm seu valor por me darem um tesão danado pra escrever).
É estranho verificar o tipo de coisa que escrevo, basicamente nos contos, claro, que fogem tanto à minha personalidade social, porque surpreendem a quem tem o prazer (?) de me conhecer socialmente.
Danem-se, mas o fato é: na pausa pro cigarro tudo isso que estou escrevendo me ocorreu... 4, 5 minutinhos e essas coisas todas. Eu me espanto ao ver como meu tédio pode ser produtivo.
Por exemplo, eu vi um motoboy entregador de pizza que tinha um celular bem melhor que o meu. Não o invejo, mas creio que é estranho ver uma raça que odeio (motoboys) com um requinte tecnológico que me atrairia o interesse. Tal estranheza se transformou em raiva. Tá, talvez eu tenha inveja dele.
Meu consolo (que não é material, como ter um notebook... droga! quero um notebook) é poder pensar que ele deve ter dividido em 666 prestações e vai ficar pagando aquele treco até o filho dele ir pra faculdade.
O problema de estar entediado, vejam bem, é que minha mente é uma puta amarga e velha, que nunca me deixa ter nenhuma satisfação. Neste caso, mal pensei algo ligeiramente agradável, minha mente me fez realizar que, quando o motoboy terminar de pagar a droga do celular com touch screen, eu ainda estarei com um celular velho e fodido.
Enfim... enquanto escrevia a história triste do motoboy [no papel], lembrei de uma conversa boba (falo como se houvesse outro tipo) na UnB a respeito do gosto de coisas que nunca provei (nem quero/precisei provar) mas que sabia como elas "sabem ao paladar" [pesquisem].
Em dado momento, um guri comentou algo sobre sinestesia [pesquisem] e a menina que queria provar que a minha teoria [nota: minha teoria era a de que muitas coisas sabemos o gosto ao senti-lo pelo cheiro] estava errada simplesmente comenta "Eu sou muito sinestésica".
É claro, eu ri de lado, já disposto a procurar qualquer outro assunto ou lugar (sim, o papo tava extremamente chato). A moça, caçando mais briga, perguntou de uma maneira ofensiva: "Tá rindo do quê?"
Era óbvio [para mim, ao menos] que eu ria da contradição a que ela se submetera tolamente. Mas eu não pude me conter e respondi:
-Nada. Isso só me pareceu uma frase que alguém diria no Big Brother. "Ah, sou um cara social, vou ser parceiro na casa." "Ah, tenho uma personalidade revolucionária. Muita gente pode não gostar de mim, mas sei lutar pelo meu espaço." "Ah, sou muito sinestésica. Posso ver cores ao ouvir música. Vai ser legal a experiência na casa."
Ninguém dos presentes riu, exceto eu, que ri agora das três situações (a contradição dela, a situação imaginária que eu descrevi e a cara dela e dos panacas em volta tentando entender). É... a universidade é o templo do saber...
Bem, acabei de me lembrar de um desejo [voltando ao assunto inicial] que eu normalmente penso, já faz uma boa dúzia de anos: a nota de cinqüenta reais eterna no bolso.
Seria uma nota que aparece no meu bolso sempre que ela acabar... Quando todo o dinheiro destes cinqüenta reais mágicos acabarem, aparece outra. Ou não, tiro as notas sucessivamente e sempre tem mais uma dentro do bolso.... Boa!
Pelo menos não terei que virar um velho ou um paraplégico. Na verdade, com esse desejo da nota, posso ir de táxi, então que se foda quem anda de ônibus/metrô.
sexta-feira, 23 de julho de 2010
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