terça-feira, 19 de agosto de 2008

Bem, um pequeno conto...





Um gato estava na porta da minha casa hoje...

Sim, um gato... e ele ficou olhando para mim. Achei estranho que me cachorro não tenha latido e assustado o gato, mas isso não foi a única coisa estranha da noite. Eu cheguei na porta, coloquei a chave e girei, e coloquei uma perna para dentro de casa. O gato não tirava o olho de mim, nem eu tirava o olho dele.

Entrei e fechei a porta. Os olhos do gato não saíam da minha mente. Meu cachorro estava encolhido no canto oposto à porta, como se tivesse sido chutado por uma bota de ferro.

Apressado, abri novamente a porta, mas o gato já não estava mais sentado onde estava antes. Fui fechar a porta, mas, com uma varrida de olhar, eu o vi novamente. Lá estava ele, com seus grandes olhos de jade, do outro lado da rua, sentado como um monge zen: o gato.

Eu simplesmente não consegui fechar a porta... fiquei com ela entreaberta, fitando o gato, perdido no oceano que seu olhar se tornava em torno da minha mente, e ele, calmo como uma montanha, apenas me olhando.

Tentei me mover, mas minhas articulações doíam. Respirar estava se tornando difícil, o ar queimava minhas narinas e pulmões, uma pressão esmagadora imobilizava meu diafragma. O gato me olhava, e eu já estava perdido naquele abismo.

Mas a sensação não era toda ruim. Eu sentia dores, pressões, frio e calor, mas não me desesperava. Pelo contrário, todas as preocupações que eu trazia para casa simplesmente sumiram. Paz. Agora eu sei o que é isso. Havia paz nos olhos do gato.

De repente, frio, congelande, cortante, causticante. Frio como eu nunca senti.

O gato desviou o olhar, e eu o segui, hipnotizado, apaixonado... e vi.

Uma forma linda e medonha vinha se aproximando... Meu corpo se soltou, e eu caí, sentado, entre a porta e a parede, sem dores, mas com uma angústia terrível me espetando o interior, sufocante.

O gato fitava a figura, e a figura vinha chegando, do fim da rua. Crescendo, eu vi aquilo andar, ou arrastar-se, até perto de minha casa. A figura parecia evitar os olhos do gato. Ao mesmo tempo, ela me via, e eu senti que me desejava. Eu a vi "sorrir" para mim.

O que se seguiu foi no exato tempo de se dizer "ah!", pois foi só o que eu disse. O gato saltou de onde estava para o meio da rua, e parou diante da criatura. Essa se assustou, e tentou golpeá-lo, mas o gato simplesmente pulou nos olhos da criatura.

"Ah!", eu disse. Ambos se enroscavam e grunhiam e sangravam. Eu chorava.

Ao fim de algum tempo, em que 7 grossas lágrimas me molharam o peito, o gato caiu ao chão e a criatura brilhou.

"Ah!", eu murmurei. A criatura tentou ainda andar, mas o gato se levantou, ferido como estava, e a criatura parou. O gato rosnou, e a criatura recuou, pouco a pouco. Eu me levantei.

O gato estava parado, olhando a forma sumir. Fui até o gato, mas ele virou-se para mim, olhou-me nos meus olhos e eu vi. Paz, novamente, eu vi. Ele pulou para o muro da casa vizinha, e sumiu atrás dele.

Os olhos do gato.

Nesses olhos vi muitas coisas. Não posso ter certeza de nenhuma delas, agora... só tenho certeza de que ele veio, e se foi, e seria muito pior se assim não fosse.



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Perdão... espero que ele veja isso como uma forma de elogio...
eu não pretendia ser tão descarado...

=[


M.

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